A reforma parte 1

Entre 1517 e 1564, surgem na Europa movimentos de caráter religioso, político e econômico que contestam a estrutura e os dogmas da Igreja Católica, rompendo com a unidade do cristianismo e dando origem ao protestantismo. Os reformistas rejeitam a pretensão da Igreja em ser o único veículo de acesso ao mundo religioso e questionam a supremacia papal, marcando o início de uma nova perspectiva religiosa: a fé pessoal.
Os movimentos reformistas ocorrem paralelamente ao renascimento, à passagem do feudalismo para o capitalismo e ao fortalecimento das monarquias nacionais européias. São o resultado da nova visão sobre o homem dada pelo humanismo, assim como do descompasso entre a consciência crítica dos fiéis e a desmoralização com a opulência do alto clero e a formação deficiente do baixo clero. As reformas interessam às monarquias, detentoras do poder secular, que querem acabar com os privilégios da Igreja. O progresso comercial e urbano também necessita de uma nova religião afinada com o capitalismo emergente. Os camponeses oprimidos pegam em armas e revoltam-se contra o catolicismo dos senhores feudais, o que transforma a luta religiosa em luta de classes. Os movimentos também provocam guerras religiosas entre protestantes e católicos, como a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). O seu avanço pela Europa obriga a Igreja Católica a adotar reformas internas, conhecidas por Contra-Reforma.

REFORMA LUTERANA - Em 1517 começa na Alemanha a reforma do monge Martinho Lutero  (1483-1546), que defende a fé como forma de salvação do indivíduo. Lutero é excomungado em 1520. Com o apoio da nobreza, as idéias de Lutero difundem-se rapidamente. Elas substituem o poder eclesiástico pelo poder do Estado, simplificam a liturgia, revogam o celibato clerical e acabam com o culto às imagens.
Reforma anglicana – É promulgada em 1534 pelo rei Henrique VIII (1491-1547) da Inglaterra. O pretexto é a recusa do Papa ao pedido de anulação de seu casamento com Catarina de Aragão, para que possa desposar Ana Bolena (1057?-1536). Na verdade, há o interesse da monarquia inglesa em submeter a Igreja e tornar o rei a autoridade suprema. A reforma anglicana consolida-se em 1558, sob o reinado de Elizabeth I (1533-1603).

REFORMA CALVINISTA - Começa em 1534, na França, com as pregações de João Calvino (1509-1564). Mais radical que Lutero, Calvino defende que o homem nasce predestinado à salvação ou à condenação, podendo salvar-se santificando a própria vida. Considera-o livre das proibições não-explicitadas nas Escrituras e estimula a busca do conforto por meio do trabalho e da vida regrada.

MARTINHO LUTERO - Teólogo  alemão (1483-1546). Iniciador da Reforma e fundador da Igreja Luterana. A partir de 1501, estuda Artes, Lógica, Retórica, Física e Direito na Universidade de Erfurt. Torna-se mestre em Filosofia em 1505 e ingressa na Ordem dos Agostinianos. Em 1512, doutora-se em Teologia. Cinco anos depois, passa a criticar a venda de indulgências pela Igreja Católica e a defender a tese de que o homem só se salva pela fé. É acusado de herege. Fixa na porta da igreja do Castelo de Wittenberg as 95 teses que iniciam a Reforma. Não reconhece a autoridade papal, nega o culto aos santos, abole a confissão obrigatória e o celibato clerical e só aceita os sacramentos do batismo e da eucaristia. Convidado pelo Papa Leão X a se retratar, recusa-se e queima em praça pública a bula pontifical. Excomungado em 1520, publica Manifesto à Nobreza Alemã, Do Cativeiro Babilônico da Igreja e Da Liberdade do Cristão, os grandes escritos reformistas. Em 1521, é banido pelo imperador Carlos V da Alemanha. Apoiado por setores da nobreza, traduz o Novo Testamento para o alemão. Abandona a ordem agostiniana em 1524 e, no ano seguinte, casa-se com uma ex-freira.

JOÃO CALVINO - Religioso francês (1509-1564). É um dos principais teóricos da Reforma Protestante do século XVI, ao lado do alemão Martinho Lutero. Nascido em Noyon, filho de um secretário do bispado da cidade. Em 1523, ingressa na Universidade de Paris, onde estuda Latim, Filosofia, Dialética e acaba por formar-se em Direito. Publica em 1532 sua primeira obra, Dois Livros sobre a Clemência ao Imperador Nero, que marca sua adesão à Reforma. Em 1535, aos 26 anos, passa a ser considerado o chefe do protestantismo francês. Muda-se para Genebra, na Suíça, mas é perseguido pelas autoridades católicas, refugiando-se então em Estrasburgo. Três anos depois, volta a Genebra, onde organiza uma nova Igreja, com pastores escolhidos pelos fiéis, e funda o Colégio de Genebra, que se torna um dos centros universitários mais importantes da Europa. Sua doutrina é conhecida como calvinismo e diferencia-se do luteranismo basicamente pela noção de predestinação: para Calvino, a salvação é uma escolha divina, cabendo ao homem apenas cooperar com a vontade de Deus. De ideologia ascética e puritana, o calvinismo inspira, mais tarde, o aparecimento do presbiterianismo.

HENRIQUE VIII - Rei da Inglaterra (1491-1547). Fundador da Igreja Anglicana. É o segundo filho de Henrique VII, fundador da dinastia Tudor. Torna-se herdeiro do trono em 1502, com a morte do irmão mais velho. Em 1509, coroado rei, casa-se com a viúva do irmão, Catarina de Aragão, filha de Fernando II e Isabel I, da Espanha. Em 1527, como Catarina não consegue lhe dar um herdeiro, pede ao Papa Clemente VII a anulação de seu casamento. Este não o atende, temendo contrariar Carlos V, sobrinho de Catarina, que domina a Itália na época. Em 1533, o Parlamento aprova a anulação, e Henrique VIII se casa com a dama da Corte Ana Bolena. No ano seguinte, rompe com a Igreja Católica e é proclamado chefe supremo da Igreja na Inglaterra. Ana Bolena dá à luz Elizabeth I, mas, incapaz de gerar um menino e acusada de adultério, é decapitada em 1536. Henrique VIII consegue um herdeiro para a dinastia Tudor, Eduardo VI, com Jane Seymour, sua terceira esposa. Casa-se mais três vezes e dirige a Reforma da Igreja na Inglaterra. Entre 1536 e 1540, extingue os mosteiros, confisca as propriedades eclesiásticas e persegue católicos e protestantes contrários à nova Igreja independente.

LUTERO E A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS                                        
 
Ao abordar o assunto de Lutero e a Bíblia, nós verificamos que ele conseguiu derrubar as confissõescatólico-romanas. A razão porque conseguiu fazer isso é que essas confissões de fé eram baseadas natradição humana e não eram de acordo com as Sagradas Escrituras. É importante observarmos como a Bíblia tinha se perdido gradativamente e como a Igreja tinha adquirido grande pode e riqueza. Esse poder e riqueza tinham resultado em corrupção, assim como o papado e o clero se tornaram corruptos.

Vamos ver 8 escândalos que ilustram a corrupção a que chegara a igreja católica romana:

escândalo do menino papa. Ele tinha 12 anos e acabou se revelando uma "besta maligna", vendendo o papado por uma oferta "gorda' em dinheiro (Sec. XI);
escândalo papa Inocêncio VIII, no século XIII. Era pai de 16 filhos ilegítimos e ordenou a execução dos Valdenses que criam verdadeiramente na Bíblia.
escândalo do Cisma Papal. Século XIV e XV. Três papas reivindicavam a autenticidade do seu papado. Onde fica a infalibilidade papal?
escândalo da imoralidade. O celibato não funcionava de fato. Em I Tm.3:4 lemos que essa doutrina do celibato é do diabo. Todos sabiam que os sacerdotes eram imorais; era um escândalo dos maiores.
O escândalo da idolatria. Eles conferiam às relíquias um poder supersticiosamente grande e da mesma forma aos ídolos. Isso pode ser observado em catedrais e igrejas romanas ainda hoje. Pessoas indo de santo em santo, de ídolo em ídolo para rezar e dando homenagem especial à Maria.
escândalo das guerras das Cruzadas. A maior relíquia era a cidade de Jerusalém que estava em poder dos muçulmanos e então foram organizadas guerras, que tiveram o nome de cruzadas onde milhares de pessoas foram exterminadas. Perguntamos: desde quando Jesus nos mandou sair matando pessoas? Isso era uma coisa sem precedentes. A população muçulmana ainda não se recuperou deste trauma. É uma mancha tremenda na história da Igreja.
escândalo da Inquisição. Thomas Tacomado foi o chefe da Inquisição na Espanha e fez com que 10 mil pessoas fossem queimadas, presas a um poste. Procurava aliciar judeus sem nenhum escrúpulo, para se tornarem cristãos. Desde quando Jesus mandou que nós deveríamos forçar pessoas a se tornarem cristãs na base da espada? Será que Jesus sugeriu que nós deveríamos ameaçar as pessoas de serem queimadas vivas se não se tornassem cristãs? Isso foi algo terrível!
As Indulgências. A salvação comprada por dinheiro nos leva a Lutero e à Reforma. Ele sentiu-se ofendido com Tetzel e a venda de indulgências. Tetzel era o mais talentoso vendedor de indulgência. dinheiro arrecadado era dividido com os banqueiros da época e com o papa, mas uma parte fica para o próprio Tetzel. Desta forma Lutero conseguiu ver que as almas estavam sendo enganadas quanto à salvação. Desde quando podemos comprar salvação com dinheiro? Isto foi o que proporcionou o pontapé inicial da Reforma.

Na Reforma nós encontramos 3 eventos principais:

As  95 tesesde 1517. Foi o protesto contra as indulgências.
A queima das leis (bulas) católico-romanas. Isso aconteceu quando Lutero foi excomungado pelo papa em 1520.
A posição firme de Lutero diante do Rei Carlos V em 1521.

Se entendermos estes três eventos, vamos compreender a Reforma:

Primeiro Evento - Na venda das indulgências havia variedades de preços. Para se certificar de que tiraria dinheiro do bolso do povo, Tetzel criou um meio de atingir os ricos e os pobres. Quem era      rico, dava mais, quem era pobre dava menos, porém todos davam. Lutero ficou enfurecido com isso  e desenvolveu, à partir das Escrituras, 95 teses mostrando razões pelas quais essa prática era   inaceitável. Mas as 95 teses também eram a respeito da salvação. Era como se fosse uma exposição bíblica do assunto. Ele pretendia que as 95 teses fossem uma plataforma para debate do assunto. Por isso pregou-as na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Estavam escritas em latim e  constituíam um convite para um debate sobre o assunto. A imprensa escrita já havia sido inventada  por Gutemberg e a esta altura já havia jornalistas nessa época. Cada um deles pegou uma cópia e a traduziu para o alemão moderno da época, vendendo-as a muitas pessoas. Em duas semanas estes  escritos estavam espalhados por toda a Europa. Os alemães, especialmente, foram muito tocados por  essas 95 teses e a venda de indulgências caiu tremendamente. Ora, se você acerta o bolso de um  homem, realmente isso lhe dói bastante e profundamente.
Os líderes católicos estavam muito preocupados e algo extraordinário havia acontecido. Lutero  havia chamado a atenção das pessoas para as Escrituras, havia alertado as pessoas para a autoridade  da Bíblia. As indulgências eram contra a Bíblia. Lutero havia puxado a corda do sino que acordara o mundo! Depois de mil anos a Igreja estava agora acordada para a realidade. De repente Lutero se  tornou conhecido por toda a Europa e teria de responder por suas ações. Felizmente ele tinha um  amigo, o príncipe Frederico, o qual tinha muita influência política. Dessa forma, na hora que se  fazia necessário, ele vinha em defesa de Lutero. Porém, ainda assim, Lutero teve de prestar contas ao Cardeal. Ele achava que iria ser martirizado e que fariam com ele o mesmo que fizeram com John  Huss, quando o queimaram vivo.
Como resultado dos debates, outros escritos surgiram. Quanto mais eles desafiavam o reformador,  mais ele escrevia. Frederico, o príncipe, havia tido um sonho e nele viu um sacerdote que era  Lutero. A caneta de Lutero ficava cada mais longa, de tal maneira que atingia Roma e tirava o chapéu do papa. Isso foi exatamente o que aconteceu. Os livros de Lutero começaram a se espalhar  e espalhar o Evangelho. Ele começou a expor os abusos da igreja católica. Expôs a doutrina da  justificação pela fé somente, e enfatizou o sacerdócio de todos os crentes. Essas publicações  venderam muitos números e todo mundo queria adquirir um exemplar. Um livro leva a outro e  todos eram expositivos no seu estilo.

Segundo Evento - O papa teve de tomar uma medida drástica e apelou para a excomunhão de   Lutero. Isso nos leva ao segundo evento da Reforma. O fato de ser excomungado da igreja era uma coisa muito séria. Havia toda uma papelada necessária e que era muito grande, todas com o selo   papal e uma oração que dizia: "Levanta-te Senhor contra este porco que invadiu Tua vinha". Essa  linguagem irritou a Lutero que ficou ainda mais irado. A excomunhão fazia também com que ninguém tivesse o direito de ler os livros de Lutero e todos que os lessem corriam o risco de vida. A  excomunhão de Lutero foi projetada de forma que as pessoas não mais lessem seus livros. Mas havia um pequeno espaço de tempo de "misericórdia", pois teria 60 dias para se arrepender de tudo.  Ele criam que nesse prazo Lutero voltaria arrependido. Foi um grande erro deles, porque a cada dia  que se passava Lutero ficava mais irritado.
No 60º dia Lutero organizou um evento grandioso. Juntou todos os professores da Universidade, os  alunos e todos os amigo e anunciou que haveria uma cerimônia de "queima" de alguma coisa. Na  cidade de Wittenberg havia um portão através do qual saía todo o lixo da cidade. Lutero pediu que  fosse construída uma grande fogueira do lado de fora da cidade. Os professores e alunos e todos que estavam ali fizeram como que uma procissão cerimonial e juntaram todas a leis da igreja  católica, leis papais, bulas papais que havia se acumulado durante séculos. Leis que amarravam e  amarram as consciências dos homens. Todo aquele ensino católico romano que era destinado a   fazer com que os homens ficassem escravizados àquelas leis. Todos estes livros foram levados por  aqueles que estavam à frente da procissão, atravessaram o portão da cidade e chegaram à fogueira. Lutero ordenou que todos estes livros fossem jogados à fogueira, um após o outros e que dessa  forma representavam as leis e tradições que haviam se acumulado através dos séculos, mantendo as pessoas escravas. Quando estes livros estavam na fogueira, Lutero tirou do seu hábito o decreto papal, o documento da excomunhão, jogou-o na fogueira e disse: "Já que vocês destruíram a  verdade de Deus, que o Senhor consuma vocês nestas chamas". Foi um ato de muita coragem, preparado para que as pessoas tivessem ousadia e coragem. Dessa forma Lutero se tornou corajoso  e povo também. Assim, quando o papa mandou emissários para impor nova excomunhão a Lutero, esse povo os expulsou. Foi um quadro muito interessante ver os emissários do papa fugindo. Foram  recebidos com paus e pedras o que serviu de "prato cheio" para os chargistas da época. No entanto  temos de ver um princípio importante aqui. Lutero estava usando a autoridade das Escrituras para  destruir a tradição.
Nós precisamos nos lembrar o que Jesus disse aos fariseus: vocês destruíram a Palavra de Deus com as suas tradições. Isso foi exatamente o que Lutero disse. A Palavra de Deus é a verdade e  precisamos destruir a tradição humana libertando as pessoas. Então um movimento grandioso se espalhou. A igreja fez de tudo para tentar amarrar Lutero, mas a cada tentativa de fazê-lo retroceder, havia fracasso. Só havia um método que faltava e a igreja católica apelou para ele, o poder político  de Carlos V que era o imperador e na realidade representava o poder civil e a igreja. Então ele  recebeu ordens para comparecer diante de Carlos V e isso foi organizado na cidade de Worms, onde  seria Lutero julgado diante do Imperador. Eles tinham certeza de que Lutero iria fraquejar diante do imperador, pois pensavam que seu sistema nervoso não suportaria a pressão.

Terceiro Evento - Aqui chegamos ao terceiro evento da Reforma: Lutero diante do imperador. Ele pensou que jamais sobreviveria a tudo aquilo. Viajou com alguns amigos para a cidade de Worms e   quando chegou à cidade, mais de 2.000 simpatizantes vieram encorajá-lo. Ele chegou e ficou diante do Imperador. Todos ficaram surpresos, pois Lutero disse que precisava de mais tempo para pensar  e considerar as questões colocadas diante dele. Alguns pensaram que ele estava começando a  fraquejar. Lutero deveria comparecer no outro ia diante do imperador. Havia tanta gente interessada neste evento que eles tiveram de ocupar o auditório mais amplo que havia na cidade.  No dia seguinte, Lutero apareceu. Sobre a mesa estavam todos os seus livros e exigiam dele que  tirasse todos aqueles livros dali e os renegasse a todos. O homem que o interrogava chamava-se  John Eck e era um homem muito eloqüente. Ele perguntou a Lutero como ousava desafiar toda a  igreja e como podia concluir o único certo e todos os demais errados; como todos os papas podiam  estar errados, todos os cardeais, toda a história da igreja? Será que Lutero podia desafiar a todos  eles? Não seria a hora de Lutero negar todos aqueles escritos e confessar que estava errado?
Mas Lutero tinha uma capacidade muito grande de argumentar e colocar a sua defesa. Ele disse que  não conseguia encontrar nada em seus livros que fossem de encontro à Bíblia. Lutero disse que  achava Ter dito algumas palavras duras a respeito de algumas pessoas, alguns líderes, mas que havia boas razões para ter feito aquilo e mesmo isso não ia de encontro à Bíblia. "Por que tenho de  negar estes livros e retirá-los?" , perguntou Lutero. Então John Eck disse-lhe: "Se seus primeiros  livros foram ruins, os últimos são piores ainda. Você precisa renunciar agora a sua heresia. Você é a   mesma coisa que Wycliffe e Huss; agora, será que você, sem muitas desculpas, nega os seus livros e  os retira? É o momento de sua última chance de renunciar aos seus erros. Negue estes livros!". Lutero se dirige ao Imperador e a todos aqueles líderes que estavam ali e responde: "Não vou usar    de mais argumentos e a menos que seja convencido pela Bíblia, não aceito a autoridade papal, nem   os concílios de tradição católicos. Todos eles se contradizem. Minha consciência está cativa à  Palavra de Deus. Tudo que posso fazer é não negar os meus livros, pois não posso ir de encontro a  minha consciência. Ajuda-me Senhor Deus! Amém."
Houve um tremendo silêncio naquele lugar. Lutero havia ido de encontro a mil anos de tradição da  igreja, contra os papas e desafiava até o Imperador. Eles o deixaram livre. Os italianos que ali   estavam começaram a ranger os dentes pois o odiavam, mas à medida que saía daquele lugar, os   alemães batiam palmas para ele. Antes que Lutero saísse, aqueles líderes exigiram que ele fizesse    sua defesa em latim e ele o fez repetindo cada palavra em latim. Dessa forma havia uma dupla   ênfase sobre a verdade defendida. Certo autor tem dito que essa, talvez, tenha sido a hora mais   brilhante na história da raça humana. Talvez seja um exagero, mas fica próximo da verdade. Foi  realmente um evento memorável.
Quando Lutero ia chegando àquela cidade de Worms, ele disse: "Mesmo que todas as telhas dos  telhados da cidade fossem demônios, ainda assim, eu iria àquela cidade".
Porém, nós precisamos fazer aplicação destas verdades para nós mesmos. Vejo três áreas de  aplicação aqui:
A Bíblia e o desafio de Roma.
A Bíblia e o desafio das novas revelações.
A Bíblia e o desafio do modernismo.

 Primeiro vemos que a igreja católica continua em nosso meio e tem na América Latina seu    grande campo de evangelização. Mas nós temos a Palavra de Deus como nossa arma poderosa, nossa espada de dois gumes que é apta para fazer em pedaços todas as tradições humanas. Nós precisamos fazer como os reformadores, que tinham ousadia e coragem. É possível que o Brasil possa ser libertado de toda espécie de tradições católicas. Vamos ver algumas tradições   católicas que foram adicionadas e se acumularam ao longo dos séculos, mas continuam   presentes ainda hoje, isso porque a igreja católica não nega nenhuma delas.

 Ano 300 - Orações pelos mortos; ano 375
Veneração de imagens; ano 593
Doutrina do  Purgatório; ano 600
Reza à Maria, aos santos que já morreram e aos anjos; ano 1050 
Sacrifício da missa; ano 1079
Doutrina maligna do celibato obrigatório; ano 1190
Venda de  indulgências; ano 1215
Doutrina da transsubstanciação; ano 1414
O cálice da eucaristia foi tirado do povo e este não mais o tomava; ano 1546 Adição de livros apócrifos (depois de 2000 anos, como podiam fazer qualquer adição às Escrituras?); ano 1870 - Infalibilidade papal; ano 1950 - Ascensão corporal de Maria.
 A igreja católica jamais negou estas tradições. Mesmo assim mudou alguma coisa. Em 1964   houve uma mudança dramática, pois agora ela é pluralista. As pessoas podem ser salvas através de várias religiões diferentes. Isso trouxe um pânico dentro da igreja católica, pois até  então ela achava que você só poderia ser salvo se fizesse parte dela, os demais estariam    perdidos. Mas, o que a Bíblia ensina sobre isso? Somente aquilo que estão em Cristo podem    ser salvos, não há salvação em nenhum outro nome, senão o de Cristo Jesus. Nunca a Bíblia   limita a Sua Igreja à uma denominação, nem tão pouco indica outro caminho para o homem   ser salvo senão Cristo. Esta mudança na igreja católica vem provar que ela não é infalível e   transforma esta idéia de infalibilidade em uma completa loucura.
 Segundo, temos que considerar a Bíblia e o desafio das novas revelações. Depois de ser           julgado pelo imperador, Lutero voltou para casa. Porém, para protegê-lo de ser morto na sua    viagem de volta, houve um "seqüestro amigável" quando o levaram para um lugar secreto  onde foi guardado em segurança - o Castelo de Wartburg. Assim não o matariam. Neste lugar   Lutero faz a tradução da Bíblia para o alemão.
 Havia muita encrenca em Wittenberg, pois alguns "profetas carismáticos" haviam chegado e  estavam gerando confusão entre os líderes e o povo da cidade. Havia três líderes este   movimento e por isso Lutero teve de voltar. Eles diziam Ter revelações especiais de Deus, uma  espécie de "linha telefônica direta" com deus. Esta tem sido hoje a forma de muitos  reivindicarem autoridade para si: "Deus me falou e eu posso transmitir para você o que Ele  está dizendo porque é só pegar o telefone".
 Estes homens geraram muita divisão e introduziram doutrinas fanáticas entre o povo. Lutero  teve de voltar e pregar a Palavra de Deus dizendo do fanatismo destes homens e afirmar que a  reforma tinha de se estabelecer, se estabilizar. Nós temos os mesmos problemas hoje! E a  forma que se tem achado para se obter crédito é dizer: "O senhor me disse". É o caso de um  jovem crente apaixonado por uma descrente. Então ele diz: "Deus me disse que eu posso casar  com ela." Ora, isso é o oposto do que a Bíblia diz. Dessa forma você pode ir fazendo   acréscimos como quiser.
 Mas nós cremos que a palavra de Deus é completa e o final da época apostólica é o final da    revelação. As pessoas nos desafiam a provar isso através da Bíblia e eu vejo duas passagens  no V.T. que dizem que as revelações cessaram: Daniel 9:24 e Zacarias 13: 1-5. É algo dado no  contexto messiânico e a verdade é dita que com a vinda do messias isso trará ao final a   revelação. O Pai disse amém a tudo o que o Filho Jesus fez. Nós não precisamos de nenhuma  revelação extra. Estas revelações têm o propósito de nos desviar da Palavra de deus e onde se    começa a dar ouvidos a estas revelações extra-bíblicas, o interesse pela palavra diminui. Hoje   em dia muitos cristãos se firmam na base de sensações. Soube até de batistas na Argentina que organizaram uma conferência onde o tema era "BÍBLIA OU EXPERIÊNCIA? " e chegaram  a conclusão que a experiência está em primeiro lugar e a Bíblia em segundo. Ë uma tremenda  falta de bom senso pois toda experiência deve estar abaixo da Bíblia, sob o crivo da Palavra.
 Nós não estamos negando o lugar da experiência, mas ela precisa ser testada pela Palavra. A   verdade é que quando as sensações chegam, as pessoas são logo atraídas por elas. Nesse caso, seu amor não é pela Palavra mas a mente fica cativa às sensações.
 Isso enfraquece tremendamente a Igreja e arruina a vida familiar também. A Bíblia nos ensina como devemos viver em amor e paz uns com os outros. Os maridos devem lembrar todos os  dias a amarem suas esposas, mas eles não poderão fazer isso se estiverem só correndo atrás de  novas sensações. Lutero experimentou a mesma coisa que temos hoje em dia, mas ele usou a Bíblia para derrubar a tradição católica e também os falsos carismáticos e restaurar a ordem à   cidade de Wittenberg.
 Chegamos a terceira aplicação. A Bíblia e o desafio do modernismo e da incredulidade. A   Igreja tem sofrido muito nos últimos cem anos por causa da reivindicação da ciência. A  tendência moderna é negar o sobrenatural, tudo é racionalista na mente humana, mas a Bíblia  é um registro dos atos sobrenaturais de Deus. O remover do povo de Israel do Egito foi um ato sobrenatural; a inscrição dos dez mandamentos naquelas tábuas de pedra foi um ato   sobrenatural; a encarnação do senhor Jesus Cristo foi um ato sobrenatural; Suas obras  poderosas e sua ressurreição foram atos sobrenaturais. É o poder todo poderoso do nosso  Deus. Temos de reconhecer que Deus criou tudo pelo poder da Sua Palavra. Mas agora nós    temos o ensino da teoria da evolução e muitos crentes fraquejam neste ponto pela pressão da   sociedade que exige a evolução como metodologia. Agora está sendo reconhecida como não   ciência, sendo apenas uma teoria e os cientistas estão tendo de corrigir algumas coisas que eles  já disseram. Mas Deus não tem nada a corrigir. O que Ele disse é a verdade e por isso temos de    ficar com a autoridade das Escrituras. Se os cientistas dizem que a Bíblia está errada, nós mandamos eles de volta para seus laboratórios, pois precisam pesquisar mais e muitas vezes   chegam a mudar de idéia e no tempo certo acertam o que erraram antes.
Aqueles cientistas que hoje já rejeitam a evolução, que não crêem em Deus, fazem a sugestão  de que certos pingos vieram do céu, fórmulas de DNA que vieram através do céu e    misteriosamente caíram na terra. Isto é conto de fada. Vamos permanecer com a Palavra de   Deus pois Ele é coerente, consistente. Não é apenas o Gênesis que nos fala da criação. O salmo 33 também nos fala e o próprio Jesus confirma a criação; o apóstolo Paulo em Romanos 5 fala   sobre Adão, o primeiro homem. A Bíblia é completamente coerente com tudo isso, com todosestes assuntos. Nós não devemos permitir que a pressão nos assuste e com as Escrituras vamos    ensinar a todas as nações e enchê-las das verdades bíblicas. Há promessas na Bíblia de que a   terra será cheia da verdade; isso será na medida que tivermos confiança na Bíblia. Que  confiança maravilhosa! Lutero tinha a Bíblia e com ela pôde empurrar e derrubar toda a força   dos papas da igreja católica. Por isso tenhamos coragem também para evangelizar e sempre que nos depararmos com material antibíblico temos que usar a Palavra da Verdade, pois nela  há poder.
 Irmãos, vamos nos levantar com a Palavra de Deus e espalhar a Sua verdade por toda parte   para GLÓRIA DE DEUS E DO SENHOR JESUS CRISTO. Amém!

TRÊS PRINCÍPIOS DO PRO-TESTANTISMO

 "Estamos comemorando neste mês, outubro, mais um aniversário deste marco histórico do qual somos fruto".  Precisamos então, estar conscientes daquilo que foi e que deve ser uma Igreja Reformada. Quais suas  doutrinas, suas práticas, sua forma de culto, etc... Que Deus nos dê graça, a fim de que possamos redescobrir o verdadeiro significado e necessidade de um movimento de REFORMA na Igreja em nossos dias"

 A fé protestante se originou em um tempo de escândalo quando Zohann Tetzel, um monge dominicanoapareceu na Alemanha e foi por todos os lugares vendendo certificados de indulgências. Era outono de 1517 quando o escândalo começou. Tetzel prometeu aos seus ouvintes que eles poderiam obter a remissão dos pecados das pessoas queridas que já haviam morrido e ido para o purgatório. Consequentemente, pessoas piedosas juntaram seus bens e correram para Tetzel para comprar estes documentos, pois isto parecia ser o requisito de caridade cristã - para que os entes queridos fossem libertos dos tormentos do purgatório e tivessem a entrada no céu assegurada. De fato, Tetzel levou pessoas a crerem que podiam obter o perdão meramente ao colocarem suas moedas no seu cofre-caixa e levando em troca os certificados oferecidos por ele. Para tornas sua campanha mais popular, Tetzel recitava o seguinte jingle: "Assim que a moeda no cofre tilintar, a alma do purgatório irá saltar". As pessoas pareciam vir de todos os lugares, procurando libertar seus queridos das chamas da punição. O purgatório, no ensino da igreja medieval, era retratado como um lugar de punição temporal pelos pecados; O tempo que a pessoa deveria passar lá seria determinado pelo número e gravidade das ofensas. Quando uma pessoa havia sido completamente purgada, ela estaria liberada para ir para o céu.
 Informações a respeito das atividades de Tetzel logo chegaram à Universidade de Winttemberg onde o Doutor Martin Luther(Martinho Lutero) Professor de Teologia, as recebeu com consternação. Ao invés de reagir com uma esperança feliz que caracterizava a reação das pessoas que estavam comprando os documentos de Tetzel, Lutero ficou enfurecido. Ele falou vigorosamente contra estas atividades e denunciava todo negócio como um escândalo de imensas proporções e defendia que a igreja tinha que ser salva deste terrível tráfico de indulgências. Lutero foi para frente da porta da igreja do castelo de Wittemberg, com um documento em uma mão, um martelo na outra e afixou na porta uma lista com noventa e cinco protestos contra a venda das indulgências. Ele também disse ao povo que estava sobre os seus cuidados que eles haviam sido cruelmente enganados. Os certificados de indulgências não prometiam a remissão de pecados e não podia garantir a salvação deles ou dos seus parentes mortos. O povo humilde alemão e a população comum das cidades não sabiam ler latim e os certificados estavam impressos em latim. Tetzel havia apostado na ignorância do povo quando os incentivava a acreditar que haviam obtido benefícios que não sequer escritos nos tais documentos.
 De acordo com os ensinamentos da igreja católica, a igreja tem a custódia dos Tesouros dos Méritos que são adquiridos pelos grandes santos que haviam excedido as boas obras necessárias para sua salvação.
 Este excesso de méritos se tornava uma fonte da qual a igreja poderiam distribuir méritos aos que estavam deficientes, e a indulgência se tornou o meio pelo qual os pecadores necessitados poderiam obter méritos desta tesouraria. Nos anos entre 1460-1470, o Papa Sixtus IV declarou que os benefícios obtidos através das indulgências poderiam ser transferidos para os crentes que há haviam ido para o purgatório.
 Lutero, inflamado de indignação, desafiou a venda de indulgências e exigiu que toda esta questão fosse discutida pelos estudiosos da Universidade. Ele convidou alguns colegas acadêmicos para um debate público a respeito das 95 teses ou objeções, que ele havia escrito sobre a venda de indulgências. Lutero assim iniciou um protesto que atraiu muitos seguidores, e logo, os que se uniram ao protesto ficaram conhecidos como os "Protestantes".
 A palavra "Protestante", de acordo com a definição do dicionário, é "um membro de algumas igrejas cristãs que terminaram se separando da igreja católico romana desde o século XVI: Batistas, Presbiterianos, Metodistas e muitos outros"; ou "uma pessoa que protesta".
 Foi no dia 31 de outubro de 1517 quando Martinho Lutero afixou os seus protestos na porta da igreja do castelo. Ele protestava contra os abusos e as corrupções ligadas a venda de indulgências e denunciava o ensino de que o perdão dos pecados poderia ser obtido através de "contrição, confissão e contribuição".
 Nesta época a igreja ensinava que o perdão dos pecados vinha através do sacramento da penitência quando o padre, representando Jesus Cristo, absolvia o pecador que confessava seus pecados, expressava arrependimento e contrição e dava uma contribuição à igreja, como penitência. Lutero falou com coragem contra as indulgências e a crença de que o perdão seria realizado através delas ou de contrição, confirmação e contribuição. A tese de número 32 das 95 escritas por Lutero diz o seguinte: "Aqueles que crêem que podem garantir a salvação por terem cartas de indulgências serão condenados eternamente juntamente com seus professores". Através deste gesto dramático, Lutero começou uma tentativa de reformar a igreja, de trazê-la de volta às origens bíblicas e à salvação ensinadas nas Escrituras, para restaurar a pureza da fé do Novo Testamento. Ele, é claro, não tinha a intenção de se tornar o fundador de
uma igreja separada protestante. De fato, Lutero, naquele ponto, acreditava que o papa ficaria agradecido por um dos seus monges ter tido a coragem de se levantar para defender a igreja contra este abuso escandaloso. Lutero não sabia que esta corrupção já havia permeado a cúpula em Roma. Nem tão pouco que o para Leão X e Albrecht, o arcebispo de Mainz, haviam organizado a venda de indulgências e apontado Tetzel como seu representante. Ao contrário de gratidão, Leão X estava totalmente enfurecido
com as ações de Lutero.
 O protesto de Lutero não era de todo negativo, e a palavra "protestante" realmente não é um termo pejorativo. A palavra é derivada do latim, da preposição PRO, que significa "para", e o infinito TESTARE, "testemunho". Um protestante, então, é um que testemunha - um protestante é uma testemunha de Jesus Cristo e da Palavra de Deus. O protestantismo, então, não é meramente o protesto contra a corrupção eclesiástica e o falso ensinamento; é o reavivamento, o renascer da fé bíblica, um renascer do cristianismo do Novo Testamento, com uma ênfase positiva sobre as doutrinas das Escrituras, Graça e Fé. Dito no belo latim do século XVI, o Protestantismo proclama SOLA SCRIPTURA, SOLA GRATIA, SOLA FIDE. Estes são os três princípios do protestantismo.

Sola Scriptura:  Onde a Bíblia afirma ser a Palavra de Deus, o verdadeiro Protestantismo aceita esta declaração como a verdade. Os protestantes acreditam, como Paulo, que toda a Escritura é "inspirado por Deus", que a Bíblia é o guia para a salvação e que é através da Palavra escrita de Deus que o crente se torna "perfeitamente habilitado para toda boa obra".(II Tm.3:17) Os protestantes atribuem à Bíblia exatamente a mesma autoridade que Jesus Cristo atribuíra à Bíblia da sua época. Disse Jesus: "Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra".(Mt.5:17-18)
 Por ficar ao lado de Jesus nesta questão da autoridade da Bíblia, o Protestantismo renuncia a autoridade das tradições humana. Quando Jesus debateu com os fariseus, ele respondeu às suas críticas com a seguinte acusação: "... E assim invalidastes a Palavra de Deus, por causa da vossa tradição".(Mt.15:6) Jesus muitas vezes contradizia as tradições dos homens, mas ele cumpria, mantinha e defendia a Palavra de Deus. No Sermão do Monte Jesus expôs a confiança dos judeus na tradição rabínica quando disse:
"Ouvistes o que foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo...".(Mt.5:21-22) Desta maneira Jesus contradizia os ensinamentos tradicionais dos rabinos que haviam pervertido a Palavra de Deus através de falsas interpretações. Jesus disse, em outras palavras: "Esqueçam o que os rabinos lhes ensinaram e ouçam o que eu digo, pois a minha palavra é a Palavra de Deus". Quando comparada ao Velho Testamento, as palavras de Jesus são, realmente, a Palavra de Deus.
 Lutero combateu a venda de indulgências e das outras superstições da igreja medieval porque ele percebeu que estas coisas não estavam baseadas na Bíblia. No entanto, ele se tornou a figura central de uma controvérsia intensa. O papa e o imperador se tornaram contra Lutero violentamente, e os príncipes da Alemanha receberam ordens para avançarem contra ele. O papa exigiu que Lutero se apresentasse em Roma para responder às acusações que pesavam contra ele. Lutero, no entanto, tinha um protetor, Frederico o Sábio, Príncipe da Saxônia. Frederico sabia que Lutero não receberia uma chance justa em um tribunal em Roma. Se ele teria de ser julgado, teria que ser em um tribunal na Alemanha. Finalmente, tudo foi organizado, e em abril de 1521, o "santo imperador romano", Carlos V foi à pequena cidade de Worms, na Alemanha, onde ele havia convocado uma assembléia imperial.
 Lá em Worms, estavam unidos os bispos, arcebispo, príncipes do Império, representantes das cidades livres e bem no alto, acima de todos esta o augusto Carlos V, Rei da Espanha e 'santo imperador de Roma'.
 Diante daquela assembléia imponente esta o humilde monge Agostiniano, Martinho Lutero, vestido com seu capuz de monge, de pé diante de uma mesa onde estavam folhetos e tratados escritos e publicados por ele. Johaun Von Eck, assistente do Arcebispo de Trier, que serviu como interrogador, mandou Lutero reconhecer o material como sendo seu mesmo, e Lutero assumiu a autoria de todo o material. Eck também perguntou se o teólogo iria se retratar das "heresias" que havia publicado. Percebendo a importância da sua postura, Lutero pediu um tempo para escrever uma resposta formal. Foram-lhe concedidas 24 horas para preparar a sua resposta e no dia seguinte ele estava diante da Assembléia e pronunciou o discurso que mudou o curso da História e modificou a Igreja para sempre. O mundo e a Igreja jamais voltaram a ser os mesmo depois que Lutero fez a sua declaração arrebatadora.
 Um simples monge e um teólogo obscuro, sem fortuna ou poder, Lutero ficou diante dos governantes da Alemanha e disse: "Desde que vossa serena majestade e vossas senhorias buscam uma resposta simples, eu a darei assim, sem chifres nem dentes. A menos que seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou por mera razão (pois não confio nem no papa nem nos concílios somente, pois é bem sabido que eles freqüentemente erram e se contradizem), eu estou atado pelas Escrituras que já citei, e a minha consciência é escrava da Palavra de Deus. Eu não posso e não irei me retratar de nada, já que não é seguro nem correto agir contra a consciência".
 Lutero talvez estivesse ali tremendo, pois ele sabia que havia arriscado sua vida por Jesus Cristo. Outros que haviam tomado este tipo de atitude antes de Lutero haviam sido queimados como traidores. De fato, o reformador John Hus havia sido queimado por ordem do Concílio de Constança 100 anos antes, e entre os crimes que o levaram a morte, foi ter protestado contra a venda de indulgências!
 Ao defender o seu ponto de vista diante daquela Assembléia, Lutero sabia que a sua vida corria um grande risco. O imperador, em favor de Lutero, manteve a sua palavra de que Lutero poderia ir até Worms e sair de lá em segurança, mas a partir daquele momento seria considerado herege diante da Igreja e um fora-da-lei aos olhos do imperador. Lutero havia proclamado o princípio que estava destinado a ecoar através dos tempos, o princípio de SOLA SCRIPTURA. Aqueles que acreditam como ele, anda defendem só as Escrituras e, como Lutero, as suas consciências estão "presas à Palavra de Deus".
 Pouco depois do protesto de Lutero e de ter iniciado a Reforma da Igreja na Alemanha, outros, em várias partes do mundo cristão, também se voltaram para a Bíblia e nela descobriram as verdades que haviam ficado obscuras através dos séculos de tradições eclesiásticas. Nas montanhas da Suíça, João Calvino surgiu como um líder da Reforma. Ele, como Lutero, se tornou um fervoroso estudante da Bíblia, e para ele, também, a Escritura era a autoridade suprema. Calvino, falando a respeito do Livro Sagrado, disse:
 "Os profetas não falavam por vontade própria, eles eram instrumentos do Espírito Santo usados para dizer apenas o que era enviado dos céus". Os protestantes suíços, como seus irmãos alemães, eram protestantes verdadeiros pois sempre exigiam que cada assunto fosse testado pela autoridade de SOLA SCRIPTURA.
 Eles também não confiavam nos papas nem nos concílios, pois as suas consciências estavam cativas ou presas à Palavra de Deus. O Protestantismo genuíno em qualquer lugar declara que a Bíblia, unicamente a Bíblia, é a autoridade da fé cristã e de prática de vida, pois esta é a fé dos nossos pais, "a fé que uma vez por todas foi entregue aos santos". (Jd.3)
 Entre as declarações protestantes de confiança na verdade e na confiabilidade das Escrituras, a da confissão de Fé de New Hampshire é majestosa e inequívoca. Aquela afirmação batista diz: "Nós cremos que a Bíblia Sagrada foi escrita por homens divinamente inspirados, e que é um perfeito tesouro de instrução celestial; que Deus é o seu autor, a salvação o seu propósito, e a verdade, sem qualquer mistura de erro em sua essência revela os princípios pelos quais Deus irá julgar-nos, e então é, e irá permanecer até o fim do mundo, o verdadeiro centro da união cristã, e o padrão supremo pelo qual toda a conduta humana, credos e opiniões devem ser testadas".
 Com esta afirmação retumbante de SOLA SCRIPTURA todos os verdadeiros cristãos irão concordar. SOLA SCRIPTURA é o fundamento indispensável da fé cristã. Se a Igreja do século XX não for fiel em proclamar SOLA SCRIPTURA, chegou a hora de outro protesto, um protesto contra os projetos humanos e a favor da Palavra de Deus.

Sola Gratia  O Protestantismo, já que é baseado nas Escrituras, ensina que o homem pecador não tem qualquer esperança de salvação através de seu próprio esforço, pois os protestantes sabem que a Bíblia diz claramente: "Pela graça sois salvos, por meio da fé - isto não vem de vós, é Dom de Deus - não de obras, para que ninguém se glorie" (Ef. 2:8-9). O Protestantismo, assim, nega todos os esquemas de salvação que promovem o homem e suas atividades e cerimônias religiosas como meio de vida eterna e perdão. Insiste ainda que a salvação vem através do puro e imerecido favor de Deus, pela graça somente. SOLA GRATIA é um ensinamento cardeal da fé protestante. Os protestantes sabem que o homem é deficiente tanto no querer quanto na habilidade de agradar a Deus e de ganhar ou conquistar a salvação. Lutero descreveu o estado pecaminoso do homem como sendo a condição de arbítrio escravo (escravidão da vontade).
 O homem, em sua insensatez, pensa que é livre, mas ele está realmente escravizado pelo pecado e por Satanás. Jesus disse: "... Todo o que comete pecado é escravo do pecado"(Jo.8:34). O homem possui um tipo de liberdade, é claro. De fato, ele é livre para fazer o que quer, mas o que ele quer é pecar! Os desejos pecaminosos o levam cada vez mais a pecar e cada vez mais para longe de Deus, vivendo em pecado, amando o pecado, e se não for pela misericórdia de Deus, morrendo em pecado. A escravidão do homem é tão completa que ele fica alegremente desapercebido da sua condição de escravo.
 Lutero refletia a respeito da trágica condição do homem caído e a descrevia desta maneira: "Eu creio que não posso por minha própria razão ou força, acreditar em Jesus Cristo meu Senhor, ou buscá-lo; mas o Espírito santo me chamou através do Evangelho, me iluminou pelos Seus dons, e me santificou e preservou na verdadeira fé; da mesma maneira Ele chama, reúne, ilumina e santifica toda a Igreja cristã da terra, e preserva a sua união com Jesus Cristo na verdadeira fé ..."
 Este é o evangelho da SOLA GRATIA! Este é o ensinamento que, aos pecadores sem esperança e incapazes, aos quais Deus não deve nada, e Ele sente piedade e derrama o seu favor de graça. Pecadores que não merecem nada além da ira de Deus, ganham o inestimável privilégio de gozar do seu favor, pois Deus, da bondade do Seu ser, escolheu ser gracioso para com pessoas que só mereciam o Seu julgamento.
 O verdadeiro protestantismo tira a sua doutrina da salvação diretamente da Bíblia e assim declara que a salvação é um presente de Deus, espontâneo, imerecido, dado a pessoas indignas, "... a graça de Deus se manifestou salvadora ..."(Tito 2:11), e assim, o verdadeiro Protestantismo declara SOLA GRATIA ao mundo inteiro. O que o homem não pode fazer por si mesmo, Deus já fez por ele através da Sua graça em Cristo Jesus. Se a Igreja do século vinte está negligenciando declarar o Evangelho da SOLA GRATIA, é chegada a hora de um novo protesto! Os protestantes agora, como no século dezesseis, devem insistir que a questão da salvação seja resolvida nas Escrituras, que proclamam que é um presente, não uma recompensa por qualquer esforço humano.

Sola Fide   O Protestantismo afirma que a Bíblia é a única autoridade e que a graça é o único meio de salvação. Isto, no entanto, deixa uma pergunta ainda sem resposta. Como é que uma pessoa pode receber a salvação? Ou, dito de outra maneira, como é que uma pessoa pode estar com deus? Esta foi a pergunta que deixou Lutero perplexo e o levou quase ao desespero.  Lutero não se tornou monge por opção. Enquanto ainda era um jovem estudante, preparando-se para a carreira de advogado, Lutero estava viajando por uma floresta na Alemanha quando de repente caiu uma terrível tempestade. Os trovões estrondavam sobre sua cabeça e os raios atingiam as árvores. O jovem temeu ser consumido por um raio e na sua angústia ele orou. Lutero orou, mas não a Deus; ele implorou a ajuda de santa Ana, a santa padroeira dos mineiros. O pai de Lutero havia trabalhado nas minas, então Lutero se lembrou da infância quando o pai dava instruções que o ensinavam a buscar a ajuda de santa Ana como mediadora para falar com Deus. Ele prometeu a santa Ana que se tornaria um monge se a sua vida viesse a ser poupada. Ele sobreviveu àquele tenebroso temporal, e foi fiel a sua promessa entrando no monastério da ordem Agostiniana em Emfurt. Como ele se tornou um padre, e, enquanto estava no monastério, se dedicou às responsabilidades da vida em comunidade, com um vigor incomum. Passava noites sem dormir, em jejuns e orações. Procurava confessar os seus pecados todos os dias, em sua busca de acertar com Deus.
 O padre Johan Stauptz, superior monástico de Lutero, percebeu que este monge era um homem com uma consciência notavelmente sensível. Lutero se sentia tão oprimido com a sensação de pecado e de culpa que ele não podia confessar o suficiente, e finalmente Stauptz disse que Lutero saísse do confessionário e só voltasse quando tivesse realmente pecado para confessar! Lutero estava vasculhando a sua consciência no esforço de conseguir aliviar o terrível peso da culpa e da vergonha, mas a confissão a um padre não o ajudou em nada.
 Apesar da Igreja medieval incentivar as pessoas a adotarem uma vida monástica como a melhor forma de ganhar o favor de Deus, a experiência no monastério, no caso de Lutero, não o ensinou a amar a Deus. Lutero mesmo admitiu que se tornou mais alienado e distante do seu Criador ao mesmo tempo em quebuscava servir mais fielmente. Como ele mesmo colocou: "Eu... estava sendo atormentado perpetuamente".
 Os estudos de Lutero no monastério e na universidade, como também na infância, o ensinaram a considerar Deus como um severo juiz, então ele ficava aterrorizado com a possibilidade de não estar entre os escolhidos de Deus. Ele confessou suas dúvidas ao padre Stauptz, e o sábio conselheiro o incentivou a parar de estudar e meditar na ira de Deus e na Sua justiça, e começar a meditar no amor e misericórdia de Deus. Stauptz mandou Lutero olhar as chagas de Cristo e acreditar que Ele foi crucificado por ele, e assim o monge encontraria a certeza do amor de Deus e do Seu favor. Lutero levou este conselho a sério, mas as dúvidas ainda o atacavam, pois ele não podia livrar-se da imagem de Deus como um juiz irado.
 O estudo da Bíblia foi uma das responsabilidades de Lutero como padre e teólogo, mas mesmo este sagrado exercício, a princípio, parecia aumentar o senso de que era um miserável. Quando encontrava a ênfase bíblica da justiça de Deus, Lutero percebia que a justiça perfeita de Deus exige a perfeição do homem. Mas, não importava o seu esforço, pois Lutero não conseguia atingir a retidão exigida pelo Criador; o monge atribulado continuava a afundar em uma miséria mental e espiritual por não conseguir apaziguar a ira de Deus contra quem havia pecado. O Deus justo que Lutero encontrou na Bíblia permanecia na sua mente como um juiz de acusação, cujas leis haviam sido quebradas.
 Na universidade de Wittemberg, Martinho Lutero recebeu a responsabilidade de fazer estudos de passagens bíblicas, e, em 1515, dois anos antes de Ter afixado suas 95 teses, ele iniciou uma série de palestras na epístola aos Romanos. Neste grande tratado de Paulo, Lutero descobriu o coração do Evangelho no capítulo 1, versos 16 e 17: "Pois não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé".
 A retidão que Lutero precisava, mas que não tinha poder de produzir, ele encontrou no evangelho de Cristo. Ele descobriu que é uma retidão que vem de Deus! A retidão que Deus exige, é a retidão que Ele mesmo fornece, através da fé no Seu Filho. Aí está o coração da fé cristã - o homem pecador é justificado, isto é, obtém uma vida reta diante de Deus, SOLA FIDE, através da fé somente.
 Quando Lutero fez a descoberta da justificação através unicamente da é, ele exclamou: "Eu senti que havia realmente nascido novamente e que havia entrado no próprio paraíso através dos portões abertos. Ali uma face totalmente diferente das Escrituras tornou-se clara para mim".
 Sim, um milagre havia acontecido no coração e na alma de Martinho Lutero. Enquanto ele estudava a palavra de Deus, o Espírito de Deus lhe concedeu a vida espiritual, o regenerou e lhe deu a fé para crer e compreender a justificação, a retidão que ele necessitava tão desesperadamente; havia-lhe sido dada pelo Filho de Deus. O Protestantismo proclama que a fé, somente a fé justifica o pecador, isto é, o declara justificado diante de Deus.
 O catecismo de Heidelberg é uma das grandes declarações da Reforma Protestante, e a sua definição de fé salvadora é especialmente pertinente: "A verdadeira fé não é meramente o conhecimento de que eu declaro saber ser a verdade tudo o que Deus revelou através da Bíblia, mas também é a firme confiança de que o Espírito Santo trabalha no meu coração pelo Evangelho; que não só para os outros, mas para mim também, a remissão dos pecados, a justificação eterna e a salvação são gratuitamente dadas por Deus meramente pela graça, só pelo méritos de Jesus Cristo".
 Aí está! O pecador, sem qualquer mérito próprio apresenta diante de Deus os perfeitos méritos de Jesus Cristo que é a suprema benevolência do céu descendo para alcançar os pecadores que não podem alcançar a deus,. Como Jesus colocou isso: "Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido"(Lc. 19:10). Ele veio buscar homens que, por natureza, jamais O buscariam. Ele amava tanto os pecadores perdidos que Ele os perseguia ao fugirem dEle, alcançou-os durante a fuga, e pelo toque suave da sua graça os transformou e guiou para o céu. Paulo descreve essa salvação de forma belíssima: "Quando, porém, se manifestar a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o Seu amor para com todos os homens não por obra de justiça praticada por nós, mas segundo a Sua misericórdia Ele nos