A reforma parte 2

Na última década deste século, mais de quinhentos anos depois do nascimento de Lutero em 1483, a Igreja contemporânea deve proclamar o Evangelho de SOLA FIDE. Se a Igreja da nossa geração não estiver fazendo isto, chegou a hora, novamente, de protestar! Vamos transformar a nossa Igreja em realmente Protestante novamente. Vamos testemunhar de Cristo e pela Palavra de Deus. Vamos protestar contra os desígnios humanos e as falsas tradições. Nós precisamos de um reavivamento do genuíno testemunho Protestante, pois estes princípios estão sendo descartados, apesar de virem da Bíblia e terem sido escritos com sangue dos mártires.
 Vamos protestar, antes que o verdadeiro Protestantismo se perca por omissão e negligência. Aqui está a fé dos nossos pais, a fé pela qual viveram e pela qual morreram. Esta é a fé que permitiu que Lutero ficasse de pé diante da igreja e do império e declarar: "A minha consciência está presa à Palavra de Deus". Esta é a fé que sustentou o mártir protestante inglês Thomas Cranmer, arcebispo de Cantebury, que morreu queimado durante o reinado de Maria a Sangüinária. Que em momento anterior de fraqueza, havia negado a sua fé para salvar a sua vida, mais que recuperou a sua coragem e pagou o preço pela lealdade ao Senhor. Quando o fogo foi colocado aos seus pés, Thomas Cranmer colocou sua mão direita dentro das chamas e clamou: "Porque a minha mão ofendeu ao escrever o contrário do que dizia meu coração, ela será queimada primeiro".
 Como Lutero, Cranmer e outros mártires creram nos três princípios do Protestantismo e sabiam que não podiam negá-los sem negar o próprio Jesus Cristo. Que Deus nos dê coragem de viver pela mesma fé e de morrer nela.
 "Eterno Deus e Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo, dá-nos o Teu Espírito Santo que escreve a Palavra pregada em nossos corações. Que nós possamos receber e crer no Teu Espírito para sermos regozijados e confortados por Ele na eternidade. Glorifica a Tua palavra em nossos corações e faz com que ela seja tão brilhante e quente que nós possamos achar prazer nela, através do Teu Espírito Santo, pensar o que é certo, e pelo Teu poder cumprir a Tua Palavra por amor de Jesus Cristo, Teu Filho, Nosso Senhor. Amém!" Martinho Lutero. 
                                                                
CALVINO, AS INSTITUTAS  E A REFORMA PROTESTANTE
 Carta ao Rei Francisco, mui poderoso monarca, cristianíssimo rei dos franceses, seu príncipe, João Calvino roga paz e salvação em Cristo.
 "Quando inicialmente, lancei mão da pena para escrever esta obra, meu principal objetivo, ó Mui Preclaro rei, era o de escrever algo que, depois, pudesse ser apresentado diante de tua majestade. Meu objetivo era o de apenas ensinar certos rudimentos em função dos quais fossem instruído, na verdadeira piedade, todos quantos são tocados por algum zelo de religião. Resolvi fazer este trabalho principalmente, por amor aos nossos compatriotas franceses, muito dos quais eu via famintos e sedentos de Cristo, e a muito poucos, porém, eu via imbuídos devidamente de conhecimento sequer modesto a respeito dEle. O próprio livro, composto de forma de ensinar simples e até chã, mostra que foi esta a intenção proposta"
João Calvino
  Quando João Calvino começou a escrever a primeira edição das Institutas da Religião Cristã, em 1535, com a idade de 27 anos, sua intenção era de servir grandemente aos interesses protestantes, mas sua influência deve ter excedido em muito a sua expectativa. Provou ser o trabalho mais influente da Reforma Protestante. Os protestantes de outros países, viram em Calvino, e em sua obra, um pilar de grande força para a obra iniciada, pois que era um teólogo do mais alto grau, enquanto que os romanistas temeram sua caneta como um dos inimigos mais fortes. Certo escritor católico, teve que dizer o seguinte a respeito das"Institutas":
 "É o Alcorão, o Talmud da heresia, a causa principal de nossa queda... o arsenal comum do  qual os oponentes da velha Igreja obtiveram emprestado as armas mais agudas. Nenhum   escrito da era da reforma é mais temido pelos católicos romanos e mais zelosa e hostilmente    combatido, que as "Instituas" de João Calvino".
 A cidade suíça de Genebra, debaixo da influência de Calvino como pastor e reformador, se tornou um refúgio para o qual os fugitivos podiam abrigar-se livres de perseguição e era um local onde eles aprendiam e equipavam-se como missionários e reformadores para o envio ao serviço do evangelho.
 Verdadeiramente Genebra era o centro da reforma protestante. O imperador Philip II, filho de Charles V, expressou o pensamento de muitos inimigos da Reforma quando ele escreveu o seguinte para o Rei de França, relativo a Genebra: "Esta cidade é a fonte de todo o dano para a França e o maior inimigo de Roma.
 A qualquer hora que precises de mim, estou pronto para ajudar, com todo o poder do meu reino, para subvertê-la".
 O governo francês, por sua parte, ameaçou destruir a cidade se ela não mantivesse os seus evangelistas dentro de seus limites geográficos, tendo enviado um embaixador com esta notificação àquela cidade. Os evangelistas protestantes, continuaram vertendo adiante, em desafio ao governo francês, depois que Calvino pronunciou aos magistrados da cidade de Genebra as seguintes palavras corajosas: "Já que a cidade só depende do Deus Onipotente para sua proteção, a prudência mais alta consiste na obediência mais perfeita ao Testamento dEle".
 Calvino nasceu na pequena cidade de Noyon, na França, em 10 de junho de 1509, quando Lutero já havia ditado suas primeiras conferências na Universidade de Wittenberg. Seu pai pertencia à classe média da cidade e trabalhava principalmente como secretário do bispo e procurador da biblioteca da catedral. Fazendo uso de tais conexões, procurou para seu filho os benefícios eclesiásticos com os quais custeasseseus estudos.
 Com esses recursos, Calvino foi estudar em Paris, onde conheceu tanto o humanismo como a reação conservadora que se lhe opunha. A discussão teológica que tinha lugar nos seus dias levou-o a conhecer as doutrinas de Wyclif, Huss e Lutero. Porém, segundo ele mesmo disse: "estava obstinadamente atado às superstições do papado". Em 1529 completou seus estudos em Paris, ao obter o grau de Mestre em Artes, e decidiu dedicar-se à jurisprudência. Com esse propósito, continuou seus estudos em Orleans e em Bourges, sob a orientação dos dois mais célebres juristas daquela época: Pierre de I'Estoile e Andrea Alciati. O primeiro seguia os métodos tradicionais no estudo e na interpretação das leis, enquanto o segundo era um humanista elegante e talvez algo vaidoso. Quando houve um debate entre ambos, Calvino interveio em favor do primeiro. Isto é importante porque indica que, ainda nesses tempos em que começava a desejar cultivar um espírito humanista, ela não senti simpatias pela elegância vã de que freqüentemente se viam possuídos alguns dos mais famosos humanistas.
 Não se sabe o motivo certo que levou Calvino a abandonar a fé romana, nem a data exata em que isso ocorreu. Diferentemente de Lutero, Calvino nos diz muito pouco sobre o estado interior de sua alma. Porém o mais provável parece ser que, no meio do círculo de humanistas que freqüentava e através de seus estudos das Escrituras e da antigüidade cristã, Calvino chegou à convicção de que teria de abandonar a comunhão romana e seguir o caminho dos protestantes.
 Em 1534, se apresentou em sua cidade natal e renunciou aos benefícios eclesiásticos que seu pai havia conseguido e que eram a sua principal fonte de sustento econômico. Se ele já estava decidido neste momento, a abandonar a igreja romana, ou se esse ato foi simplesmente um passo a mais na sua peregrinação espiritual, nos é impossível saber. O fato é que em outubro de 1534 Francisco I, até então relativamente tolerante com os protestantes, mudou sua política e, em janeiro seguinte, Calvino se exilava na cidade protestante de Basiléia.
 Calvino sentia-se chamado a dedicar-se ao estudo e às obras literárias. Seu propósito não era de modo algum chegar a ser um dos líderes da Reforma, mas sim encontrar um lugar tranqüilo onde pudesse estudar as Escrituras e escrever sobre a nova fé. Pouco antes de chegar a Basiléia, havia escrito um breve tratado sobre o estado das almas dos mortos antes da ressurreição. Segundo ele encarava sua própria vocação, sua tarefa consistiria em escrever outros tratados como esse, que serviriam para aclarar a fé da igreja numa época de tanta confusão.
 Portanto, seu principal projeto era um breve resumo da fé cristã do ponto de vista protestante. Até então, quase toda literatura protestante, chegava pela urgência da polêmica, e assim tratava somente dos pontos em discussão, e havia dito pouca coisa sobre outras doutrinas fundamentais do cristianismo, como por exemplo a Trindade, a Encarnação, etc. O que Calvino se propunha então era cobrir esse vazio com um breve manual ao qual deu o título de "Institutas da Religião Cristã".
 A primeira edição surgiu em Basiléia, no ano de 1536. Era um livro de 516 páginas, porém de formato pequeno, de modo que cabia facilmente nos amplos bolsos que se usavam antigamente, e podia, dessarte, circular dissimuladamente pela França. Constava de apenas seis capítulos. Os primeiros quatro tratavam sobre a lei, o Credo, o Pai Nosso e os sacramentos. Os últimos dois , de tom mais polêmico, resumiam a posição protestante com respeito aos "falsos sacramentos" romanos e a liberdade cristã.
 O êxito desta obra foi imediato e surpreendente. Em nove meses se esgotou a edição, que, por estar em latim, era acessível a leitores de diversas nacionalidades.
 A partir de então Calvino continuou preparando edições sucessivas das Institutas que foi crescendo segundo iam passando os anos. As diversas polêmicas da época, as opiniões de vários grupos que Calvino considerava errados e as necessidades práticas da igreja, foram contribuindo para o crescimento da obra, de tal maneira que para seguirmos o curso do desenvolvimento teológico de Calvino e das polêmicas em que se envolveu, bastaria comparar as edições sucessivas das Institutas. O que não é possível fazer aqui.
 Foram editadas cerca de nove vezes, sendo que as últimas edições datam de 1559 e 1560. Este texto definitivo dista muito de ser o pequeno manual de doutrina que Calvino tinha tido em mente publicar quando da primeira edição, pois os seis capítulos de 1536 se haviam transformado em quatro livros com um total de oitenta capítulos. O primeiro livro trata sobre Deus e sua revelação, assim como da criação e da natureza do ser humano, porém sem incluir a queda e a salvação. O segundo livro trata sobre Deus como redentor e o modo em que se nos dá a conhecer primeiramente no Antigo Testamento, e depois em Jesus Cristo. O terceiro livro trata sobre como, pelo Espírito, podemos participar da graça de Jesus Cristo e dos frutos que Ele produz. Por último, o quarto livro trata dos "meios externos" para essa participação, isto é, fala-nos sobre a igreja e os sacramentos. Por toda obra se manifesta um conhecimento profundo, não só
das Escrituras, mas também de antigos escritores cristãos, particularmente Agostinho, e as controvérsias teológicas do século XVI. Sem dúvida alguma, esta foi a obra-prima de teologia sistemática protestante em
todo esse século.
 Mas , na realidade, Calvino não tinha a menor intenção de se dedicar ativamente à obra de reformador. Pois mesmo sentindo grande admiração por aqueles que assim fizeram, seu maior desejo era o de poder se dedicar ao estudo e a literatura reformada, não se vendo como pastor ou mesmo capacitado para tal obra.
 Seu objetivo era de se estabelecer em Estrasburgo, onde a causa reformadora havia triunfado, e onde havia uma grande atividade teológica e literária que lhe parecia oferecer um ambiente propício para seus trabalhos.
 Mas, quando para lá se dirigia, teve de desviar seu caminho e passar por Genebra, em virtude de uma guerra. A situação em Genebra diferia em muito da de Estrasburgo, pois era muito confusa, tendo em vista a recem-chegada fé reformada levada por Guilherme Farel e um grupo de missionários advindo de Berna, que necessitava muito de ajuda para conduzir a vida religiosa na cidade.
 Calvino chegou a Genebra com a intenção de passar ali, não mais que um dia , e prosseguir caminho para Estrasburgo. Porém, alguém avisou a Farel da presença de Calvino, o autor das Institutas, que logo foi procurado e com quem obteve uma entrevista marcante.
 Farel, que "ardia com um maravilhoso zelo pelo avanço do evangelho", apresentou a Calvino várias razões pelas quais precisava de sua presença em Genebra. Calvino escutou atentamente seu interlocutor, uns quinze anos mais velho que ele, porém se negou a aceitar seu rogo, dizendo-lhe que tinha projetado certos estudos e que não lhe parecia possível terminá-los na situação em que Farel descrevia. Quando por fim Farel tinha esgotado todos os seus argumentos, sem conseguir convencer ao jovem teólogo apelou ao Senhor de ambos e insurgiu contra o teólogo com voz estridente: "Deus amaldiçoe teu descanso e a tranqüilidade que buscas para estudar, se diante de uma necessidade tão grande te retiras e te negas a prestar socorro e ajuda".
 Diante de tal imprecação, nos conta Calvino: "essas palavras me espantaram e me quebrantaram e desisti da viagem que tinha empreendido". E assim começou a carreira de João Calvino como reformador de Genebra.
 Mesmo que de início Calvino aceitasse simplesmente permanecer na cidade, e colaborar com Farel, logo sua habilidade teológica, seu conhecimento da jurisprudência e seu zelo reformador fizeram dele o personagem central da vida religiosa da cidade, enquanto que Farel gostosamente se tornava um seu colaborador. Porém nem todos estavam dispostos a seguir o caminho da reforma que Calvino e Farel haviam traçado. E quando começaram a exigir que se seguissem verdadeiramente os princípios protestantes, muitos dos burgueses que haviam apoiado a ruptura com Roma começaram a oferecer-lhes resistência, ao mesmo tempo que faziam chegar a outras cidades protestantes da Suíça rumores sobre supostos erros dos reformadores genebrinos. O conflito se travou finalmente em torno do assunto do direito da excomunhão. Calvino insistia em que, para que a vida religiosa se conformasse verdadeiramente aos princípios reformadores, era necessário excomungar os pecadores impenitentes. Diante do que pareceu um rigor excessivo, o governo da cidade se negou a seguir os conselhos de Calvino. Posteriormente, o conflito foi tal que Calvino foi desterrado. O fiel Farel, que poderia permanecer na cidade escolheu antes o exílio que tornar-se um instrumento dos burgueses, que queriam uma religião com toda sorte de liberdade e poucas obrigações.
 Calvino viu nisso tudo uma porta que o céu lhe abria para continuar sua vida de estudos e retiro, que havia projetado, e se dirigiu a Estrasburgo. Porém nessa cidade o chefe do movimento reformador, Martinho Bucero, também não o deixou em paz. Havia ali um forte contingente de franceses, exilados por motivos religiosos, carentes de direção pastoral, e Bucero fez com que Calvino se encarregasse deles. Foi aí então que o nosso teólogo produziu uma liturgia francesa e traduziu vários salmos e outros hinos, para que fossem cantados pelos franceses exilados. Além disso produziu a Segunda edição das Institutas, e se casou com a viúva Idelette de Bure, com quem foi feliz até que a morte o levou em 1549.
 Os três anos que Calvino passou em Estrasburgo foram provavelmente os mais felizes e tranqüilos de sua vida. Porém apesar disso, lhe doía sempre não Ter podido continuar a obra reformadora em Genebra, por cuja igreja sentia um grande amor e responsabilidade. Portanto, quando as circunstâncias mudaram na cidade suíça e o governo o convidou a regressar, Calvino não vacilou e uma vez mais ficou com a responsabilidade da obra reformadora em Genebra.
 Foi em meados de 1541 que Calvino regressou a Genebra. Uma de suas primeira ações foi redigir as Ordenanças Eclesiásticas, que foram aprovadas pouco meses depois pelo governo da cidade, se bem que com algumas emendas. Segundo se estabelecia nelas, o governo da igreja ficava principalmente nas mãos do Consistório, que era formado pelo pastores e por doze leigos que recebiam o nome de "anciãos". Visto que os pastores eram cinco, os leigos eram a maioria no Consistório. Porém apesar disso o impacto pessoal de Calvino era tal que quase sempre esse corpo seguia suas orientações e seus desejos.
 Em 1559 Calvino viu cumprir-se um de sues sonhos, ao ser fundada a Academia de Genebra, sob a direção de Teodoro de Beza, que depois sucedeu Calvino como chefe religioso da cidade. Naquela academia se formou a juventude genebrina segundo os princípios calvinistas, Porém seu principal impacto se deve a que nela cursaram estudos superiores pessoas procedentes de vários outros países, que depois levaram o calvinismo a eles.
  Transcrição parcial de "A Era dos Reformadores" - Justo L. Gonzalez, publicado pela  Sociedade Religiosa Edições Vida Nova.

CALVINO E A REFORMA PROTESTANTE
 É importante saber sobre nossa herança e a pregação da fé. Uma das razões porque devemos olhar para a história é por que aprendemos a orar. Orar pelos homens que precisamos na Igreja de Cristo. Vendo os grandes homens do passado sabemos orar por quais tipos de homens precisamos nas Igrejas. Precisamos de homens de coragem, que saibam ficar de pé defendendo a salvação que uma vez nos foi entregue; homens como Barnabé e Paulo, que estejam prontos a arriscar suas próprias vidas; que estejam dispostos a pregar a verdade mesmo quando custar "muito caro"; que defendam a verdade custe o que custar.
 Creio que Deus prepara a hora para os homens e os homens para a hora. Se lermos Efésios capítulo 4 em diante, vemos que os homens dados por Deus para a Igreja são aqueles que a Igreja precisa. Precisamos de homens novamente como Atanásio, que estava pronto a ficar em pé contra todo mundo. O mundo troca os ensinamentos bíblicos para justificar aquela maneira que os homens tem de pensar e agir. Mas Atanásio ficou de pé com a verdade, independente de qualquer consequência. Cristo é Deus de verdade!!
 A outra razão pela qual devemos olhar para a história é para entendermos como Deus trouxe avivamentos no passado. Para nós a leitura da vida de homens do passado que foram usados em grandes avivamentos, nos traz encorajamento. Nos últimos anos tem havido um despertamento no ensino de que a salvação vem do Senhor, que a salvação é do Senhor. Temos visto e tomado conhecimento de que em todo mundo há evidências na mudança da pregação do Evangelho. O antigo Evangelho bíblico tem sido empurrado para o lado e hoje temos uma mensagem para a sociedade de consumo, em que se prega aquilo que as pessoas gostam e aceitam. Dessa forma é oferecido como uma loja oferece seus produtos para agradar ao cliente, aquilo que eles querem. Mas precisamos hoje daquele Evangelho que levou multidões ao quebrantamento, apesar de todas as suas pontas agudas. Este é o Evangelho da graça e da soberania de Deus. Somos salvos pela graça de Deus. O resultado deste "evangelho" superficial que hoje é pregado, que tem medo de ferir as pessoas, tem levado a gerar crentes carnais que nada sabem do temor de Deus em seus corações. Este "evangelho" que se prega hoje está centralizado no homem.
 Vamos estudar a vida de um campeão da fé: JOÃO CALVINO. Que ele seja um exemplo para nós. Lendo Jr.9:23-24, "Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço benevolência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor" vemos quem foi este herói da fé. Calvino foi um grande campeão da fé e o nosso desejo é estudar a vida deste homem, sua grandeza, e dar toda glória a Deus. Estes versículos falam da sua vida, pois deu toda glória a Deus e de fato trouxe uma grande influência no mundo ocidental.
 Vejamos Calvino como um homem escolhido por Deus para dar-Lhe glória e exaltar o Seu nome. Vamos ver seis partes de sua vida de forma sucinta.
 1º Calvino como ESTUDANTE ou ESTUDIOSO. (Omitido nesta transcrição)
2º Calvino como EXPOSITOR e PASTOR. (Omitido nesta transcrição)
3º Calvino como ESCRITOR. (Omitido nesta transcrição)
4º Calvino - UM LIDER ECLESIÁSTICO. (Omitido nesta transcrição)
5º Calvino como EVANGELISTA. (Omitido nesta transcrição)
6º Calvino como EXEMPLO.
 Foi um estudioso, escritor, expositor, líder, evangelista, mas também um exemplo. Ele sempre queria ter paz. Se lermos algumas de suas obras veremos que foi um homem valente, muito franco, não tinha "arrodeios", era muito direito. Assim ele era nas suas obras, nas suas pregações, mas era um homem de paz e que queria paz entre os irmãos.
Casou-se com uma viúva em agosto de 1540 e por nove anos viveu feliz com ela. Seu nome Idalette e sobre ela dizia Calvino: "Foi a mais excelente companheira da minha vida e ajudadora do meu ministério. Após sua morte (1549), Calvino criou os filhos dela, cuidando, ensinando sobre a humildade e o trabalho.
 Nós temos sido dedicados trabalhadores só enquanto está tudo bem conosco e temos saúde. Mas Calvino era um homem muito doente, pois tinha asma, úlcera gástrica, cálculo renal, cálculo biliar e os historiadores dizem que ele tinha mais de quarenta tipos de doenças, porém sempre estava trabalhando e pregando. Pregava duas vezes por dia e chegava a pregar três vezes no Domingo. Escrevia cartas para a Inglaterra, Escócia, França e diferentes partes da Europa. Esta é um grande exemplo para nós.
 Em 1537 Calvino e Farel conseguiram a aprovação de um decreto que determinava: A Ceia do Senhor será celebrada em ocasiões preestabelecidas; um catecismo de criança seria preparado; o canto congregacional seria adotado e os membros em pecado seriam disciplinados. Como se recusaram a dar a Ceia a alguns, isso gerou uma grande controvérsia que acabou levando-os ao exílio em 1538. Calvino foi para Estrasburgo onde pastoreou um grupo de refugiados franceses. Mas em 1541 é convidado a voltar após as lideranças reformadas obterem o controle da cidade de Genebra.
 Em 1559 viu cumprir-se um dos seus sonhos ao ser fundada a Academia de Genebra sob a direção de Theodoro Beza, que foi seu sucessor como chefe religioso após sua morte. Nesta academia estudaram jovens de várias regiões da Europa segundo os princípios calvinistas.
 Morreu em 27 de maio de 1564 após um episódio de hemoptise (talvez pela tuberculose). Só mesmo a graça de Deus, operando em um organismo tão frágil, explique o trabalho que este homem realizou e que até hoje dá seus frutos.
 Eis algumas de suas últimas palavras: "O Senhor teve piedade de mim, sua pobre criatura; tirou-me das profundezas da idolatria na qual estava vivendo e levou0me à cruz do Evangelho da qual eu era completamente indigno; eu me via através de muitos defeitos que me faziam merecer mil vezes a Sua repulsa, mas Ele me estendeu a Sua misericórdia utilizando-me para anunciar a verdade do Evangelho. Por Sua infinita bondade, toda bênção que Ele tem dispensado por Sua graça, tem sido imerecida. Meu refúgio esta em um Pai de misericórdia para um miserável pecador como eu."
 Não se sabe onde foi sepultado, pois não queria Ter nenhum monumento, nada, tão somente que a Deus fosse dada toda glória. Muitas vezes começava suas mensagens dizendo: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?". Ele nos dá o exemplo de prestar toda glória a Deus.
 Não é sem razão que os slogans da Reforma são: SOLI DEO GLORIA, SOLA SCRIPTURA, SOLA FIDE, SOLA GRATIA, SOLO CHRISTI.

PROTESTANTISMO
 Movimento  cristão surgido com a Reforma, iniciado pelo teólogo alemão Martinho Lutero  (1483-1546), no século XVI, que rompe com a Igreja Católica. As críticas de Lutero ao catolicismo começam em 1517. Defende que a fé é o elemento fundamental para a salvação do indivíduo, condena a venda de indulgências pela Igreja e o relaxamento dos costumes do clero da época. Fixa na porta da igreja do Castelo de Wittenberg as 95 teses consideradas heréticas. Em 1519, Lutero afasta-se definitivamente do catolicismo, ao negar o primado do Papa. Dois anos depois é excomungado pelo Papa Leão X. Com a simpatia de diferentes setores da nobreza e dos camponeses, o luteranismo difunde-se na Alemanha. Lutero traduz a  Bíblia para o alemão, abole a confissão obrigatória, o jejum e o celibato clerical. Os protestantes também negam o culto à Virgem Maria e aos santos. O nome protestante é atribuído, na época, aos partidários da Reforma que protestam contra a Dieta (assembléia convocada pelos reis) de Espira (1529). A Igreja Protestante, também conhecida como Evangélica, reivindica a reaproximação da Igreja ao cristianismo primitivo.
O protestantismo divide-se em protestantismo histórico, criado a partir da Reforma, e protestantismo pentecostal, surgido no começo do século XX, com ênfase no exorcismo e na veneração do Espírito Santo. Todas as igrejas protestantes celebram Natal, Páscoa, Pentecostes e as demais festividades. Também existem as comemorações particulares a cada uma das igrejas protestantes, como o Dia de Ação de Graças, celebrado pelos luteranos, e o Dia da Escola Dominical, comemorado pelos metodistas. A liturgia protestante é simplificada e os sacramentos são o batismo e a eucaristia.

Protestantismo Histórico -  Corrente do protestantismo que compreende as igrejas formadas a partir da Reforma, como a Luterana, a Presbiteriana, a Anglicana, a Batista e a Metodista.

Igreja Luterana - É a primeira Igreja saída da Reforma, fundada por Martinho Lutero. A comunidade pode escolher seus pastores e todos os batizados são considerados sacerdotes. Acentua-se a autoridade única da Bíblia, não sendo necessária a interpretação de um sacerdote. Cada igreja é independente e não é submetida a uma hierarquia.

Igreja Presbiteriana -  Modalidade protestante que não reconhece a autoridade episcopal (dos bispos) nem aceita hierarquia superior à dos presbíteros (sacerdotes). Fundada pelo escocês John Knox (1505-1572), seus princípios fundamentais são enunciados na Confissão de Fé de Westminster, em 1643. Segue a doutrina religiosa do teólogo francês João Calvino (1509-1564), que funda em Genebra uma corrente do protestantismo. Calvino afirma o dogma da predestinação, segundo o qual o homem está destinado à salvação ou à condenação. Salva-se quem santificar a vida cumprindo seus deveres. Defende que a Igreja e o Estado devem estar separados, com predomínio da primeira sobre o último. Enfatiza especialmente a leitura e interpretação da Bíblia e admite os sacramentos do batismo e da eucaristia.

Igreja Anglicana - Igreja oficial da Inglaterra criada pelo rei Henrique VIII (1491-1547), que em 1534 rompe com a Igreja Católica. Usa como pretexto a recusa do Papa Clemente VII em aceitar seu divórcio de Catarina de Aragão. Com o apoio do Parlamento e do povo, descontentes com os privilégios e poderes eclesiásticos, Henrique VIII se proclama chefe supremo da Igreja Anglicana. Da Inglaterra difunde-se para as colônias, especialmente na América do Norte. No Brasil, é conhecida como Igreja Episcopal. Assemelha-se ao catolicismo quanto à liturgia. O anglicanismo admite mulheres como sacerdotes desde 1994.
 
Igreja Batista - Criada em Londres, em 1611, a partir de um grupo de luteranos liderados por Thomas Helwys (1550-1616). Valoriza o sacramento do batismo e defende a sua realização em idade adulta. Para os batistas, a salvação eterna não está relacionada com a realização de boas obras. Difundida principalmente nos Estados Unidos, a Igreja Batista não utiliza a cruz como símbolo.
 
Igreja Metodista - Formada em 1740, a partir da obra do clérigo anglicano John Wesley (1703-1791), tem forte influência calvinista. Wesley passa a fazer reuniões metódicas para exercícios de meditação mística, daí o nome de metodistas. A Igreja Metodista aceita o batismo simbólico das crianças. Defende que a Palavra de Deus é suficiente para a salvação, mas critica a interpretação individual dos textos sagrados. Acredita na cura divina e na manifestação do Espírito Santo.

Protestantismo Pentecostal  -  Corrente do protestantismo que surge em Los Angeles, Estados Unidos, em 1906, e se difunde rapidamente pelos países do Terceiro Mundo. Desenvolve-se a partir de uma dissidência dos metodistas. O pentecostalismo reverencia o Espírito Santo, que concede aos apóstolos o dom de curar. Os cultos são emotivos e teatrais. Há ênfase na pregação do Evangelho, nas orações coletivas feitas em voz alta e nos rituais de exorcismo e cura, realizados em grandes concentrações públicas. Divide-se em pentecostalismo tradicional e neopentecostalismo.

Pentecostalismo tradicional  - As principais igrejas são Assembléia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, Evangelho Quadrangular e O Brasil para Cristo. A Assembléia de Deus é a maior igreja pentecostal do Brasil. Surge em 1911, de uma cisão dos batistas de Belém (PA). Nos cultos, os fiéis cantam e oram em voz alta, com os braços estendidos. A Congregação Cristã do Brasil existe desde 1909. Durante os cultos, homens e mulheres sentam-se em lados separados nos templos. A Evangelho Quadrangular, criada nos Estados Unidos em 1918, chega ao Brasil na década de 40. Enfatiza os dons da cura e de falar em línguas desconhecidas. O Brasil para Cristo é fundada em 1955 pelo brasileiro Manuel de Melo, que foi pastor da Assembléia de Deus e da Evangelho Quadrangular. Os cultos são marcados pelas orações espontâneas e pelos testemunhos dos fiéis, que também podem pregar.

Neopentecostalismo  - Movimento surgido na década de 70 e que dá maior ênfase aos rituais de exorcismo e cura. Segue a Teologia da Prosperidade, que defende que a felicidade e o sucesso devem ser encontrados nesta vida. Os neopentecostais têm hábitos morais menos rígidos do que os pentecostais tradicionais. A principal igreja é a Universal do Reino de Deus, fundada por Edir Macedo  em 1977. Com 3,5 milhões de membros, a Universal é a igreja que mais cresce no Brasil, onde tem cerca de 2.100 templos, e já se espalhou para 34 países. Considera que o mundo está tomado por demônios e a tarefa dos pastores é exorcizá-los.

Pára-Protestantes  - Formam um grupo específico dentro do protestantismo porque acreditam que a própria doutrina foi revelada por uma ação divina especial. As principais igrejas são a Mórmon, a Adventista e a Testemunhas de Jeová.

Igreja Adventista - Doutrina criada nos Estados Unidos por William Miller (1782-1849), que anunciava a volta de Cristo à Terra em 1844. Apesar de não realizada a profecia, continua a incorporar novos fiéis. Divide-se em vários ramos, como Cristãos Adventistas União da Vida e Advento; e Adventistas do Sétimo Dia, que consideram o sábado dia sagrado. Os adventistas acreditam que a volta de Cristo está próxima e que os mortos dormem até a ressurreição.

Igreja Mórmon - Também chamada de Igreja de Jesus Cristo dos Santos do Último Dia, é fundada em 1830 pelo americano Joseph Smith (1805-1844). Mórmon é o nome do livro que o fundador teria recebido das mãos de um profeta.

Testemunhas de Jeová - Igreja formada em 1875 pelo americano Charles Russel (1852-1916), resulta da fragmentação da Igreja Adventista. Os fiéis rejeitam as noções de imortalidade da alma e de inferno. Acreditam que religião e governo são criações do diabo. Defendem a moral rígida e recusam-se a prestar o serviço militar. Seus locais de encontro chamam-se salões do reino.

“EVANGÉLICO” - Os rótulos geralmente são confusos, especialmente quando o conteúdo da embalagem muda. Suco de uva pode virar vinagre com o passar dos anos na adega, porém o rótulo não muda junto com as mudanças na substância. 0 mesmo vale para o termo evangélico". Desde o "Ano do Evangélico", correspondente ao bicentenário de nossa nação (no caso os EUA) em 1976, o termo - pelo menos na América do Norte - veio a identificar aqueles que salientam um determinada marca da política, uma abordagem moralista e freqüentemente legalista da vida, e certo tipo de imitação, "cafona" de estilo de evangelismo. Para alguns o termo compreende o emocionalismo que eles vêem na televisão religiosa. Para outros, hipocrisia e justiça própria. E aí há as memórias que muitos de nós, que fomos criados como evangélicos, temos: ambientes familiares fortes e cuidadosos; um senso de pertencer a um mesmo lugar, com os amigos que gostam de conversar das "coisas do Senhor". Independente do seu passado, é importante entender o significado do termo "evangélico". As pessoas só começaram a usar o rótulo no século XVI, designando aqueles que abraçaram o Evangelho que havia - num sentido bem real - sido recuperado pela Reforma Protestante naquele século. "Evangélico" vem de "evangel", que é o termo grego para "evangelho". Deste modo, os "evangélicos" eram luteranos e calvinistas que queriam recuperar o evangel e proclamá-lo dos altos dos telhados. Era uma designação empregada para colocar os Protestantes num agudo contraste com os Católicos Romanos e "seitas". Mas para entender por que estes Protestantes pensavam que eram realmente aqueles que recuperaram o verdadeiro e bíblico Evangelho, temos que entender o que era aquele evangelho.

O "Evangel" A Reforma era uma coleção de "solas" - esta é a palavra latina para "somente". Eles vibravam ao dizer "Sola Scriptura!", significando, "Somente as Escrituras". A Bíblia era a "única regra para fé e prática" (Westminster) para os reformadores. Você vê que a igreja acreditava que a Bíblia era totalmente inspirada e infalível, mas a igreja era o único intérprete infalível da Bíblia. Os Reformadores acreditavam que a Tradição era importante e que os Cristãos não a deveriam interpretar por eles mesmos, mas que todos os cristãos sejam clérigos ou leigos, deveriam chegar a um comum entendimento e interpretação das Escrituras juntos. A Bíblia não deveria ser exclusivamente deixada aos "espertos", mas isso nuncasignificou para os Reformadores que cada cristão deveria presumir que ele ou ela pudessem chegar a interpretações da Bíblia sem a orientação e assistência da Igreja.
0 principal ponto de "Sola Scriptura" então, era este: Não deveria ser permitido à Igreja fazer regras ou doutrinas fora das Escrituras. Não existem novas revelações, nem papas que ouvem diretamente a voz de Deus, e nada que a Bíblia não apresente deveria ser ordenado aos cristãos.
0 segundo "sola" era "solo Christus", "Somente Cristo". Isto não queria dizer que os Reformadores não criam na Trindade - pois o Pai e o Espírito Santo eram igualmente divinos, mas que Cristo, sendo o "Deus-Homem" e nosso único Mediador, é o "Homem de frente" para a Trindade. "Aquele que me vê a Mim, vê ao Pai que me enviou", disse Jesus. Num tempo em que meros seres humanos estão tomando o lugar de Cristo como Mediador entre Deus e cristãos, os reformadores proclamaram juntamente com Paulo: "Há somente um Deus e um Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem" (1 Tim. 2: 5). Eu cresci em igrejas onde tínhamos "apelos ao altar" e esta pode ser a coisa mais próxima que nós cristãos modernos temos do "chamado ao altar" medieval, a missa. Em nossas igrejas, o pastor atuaria como mediador, vendo nossa mão levantada "enquanto cada cabeça está baixa e cada olho fechado", e nós iríamos para a frente onde ele estava, o chamado "altar" e repetiríamos uma oração após ele. Então ele afirmaria que, tendo "feito a oração", nós agora estaríamos salvos. Eu me lembro de Ter  sido "salvo" novamente, e novamente. Quando me senti culpado após uma particular e desagradável noite de sábado, lá ia eu novamente ao altar. Cristãos medievais estavam sempre apavorados até a morte, por ver que poderiam morrer com pecados não confessados e assim iriam para o inferno. Assim, a missa era uma oportunidade de "estar em dia com Deus" e de "encher a banheira" que tinha tido um vazamento por causa do pecado.
Os reformadores, porém, diriam àqueles dentre nós que vivem ansiosos quanto ao fato de estar ou não dentro do favor de Deus, ou se estamos cedendo demais ou obtendo vitória: "Somente Cristo!" É a Sua vida e não a nossa, que conta para a nossa salvação; foi a Sua morte sacrificial e ressurreição vitoriosa que nos assegurou vida eterna. Porque Ele "entregou tudo"; o Seu mérito cobre totalmente o nosso demérito
E isso nos traz ao próximo "sola" - "sola gracia" (Somente a Graça!) Roma acreditava na graça; de fato, a Igreja insistia que, sem a graça, ninguém poderia ser salvo. Só que a graça era o tipo de "um pó mágico" que ajudava a pessoa a viver uma vida melhor - com a ajuda de Deus. Os reformadores, em contrapartida, diziam que a graça não é uma substância que Deus nos dá para vivermos uma vida melhor, mas sim uma atitude em relação a nós, aceitando-nos como justos por causa da santidade de Cristo, e não nossa.
Por isso eles lançaram o quarto "somente" (sola), que sabemos ser "sola fide" (somente a fé). Considerando que somos salvos somente pela graça, como obtemos essa graça? Roma argumentava que essa graça era distribuída pela igreja através dos vários métodos que os "altos escalões" haviam inventado. Fé mais amor, ou fé mais boas obras, ou alguma coisa assim, tornou-se a fórmula para a salvação. Os reformadores ao contrário, insistiam que do início ao fim, "salvação é obra do Senhor" (João 2: 9). "0 Espírito dá vida; o homem em nada colabora" (João 6: 55). "Não depende da decisão, nem do esforço do homem, mas da misericórdia de Deus" (Rom 9: 16). Assim a fé em si mesma é um dom da graça de Deus e não se pode dizer dela que seja "a coisa" que nós fazemos na salvação: Pois nós não somos nascidos da vontade da carne ou da vontade do homem, mas de Deus" ( João 1: 13).
No minuto em que uma pessoa olha para "Cristo somente" para sua salvação, dependendo da Sua vida santa e sacrifício substitutivo na cruz, naquele exato momento ela ou ele é justificado (posto em posição de justiça, declarado justo, santo, perfeito). A própria santidade de Cristo é imputada (creditada) na conta do crente, como se ele ou ela tivessem vivido uma vida perfeita de obediência - mesmo enquanto aquela pessoa continua a cair repetidamente no pecado durante sua vida. 0 Cristão não é alguém que está olhando no espelho espiritual, medindo a proximidade de Deus pela experiência e progresso na santidade, mas é antes alguém que está "olhando para Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé"( Heb. 12: 2). Resumindo, é o estilo de vida de Cristo, não o nosso, que atinge os requisitos de Deus, e é por Ele que a justiça pode ser transferida para nossa conta, pela fé (olhando somente para Cristo).
Finalmente, os reformadores disseram que tudo isso significa que Deus é quem tem todo o crédito. "Soli Deo Gloria" (Somente a Deus seja a Glória) era a forma que eles colocavam - nosso último "sola", que quer dizer, "A Deus somente seja a Glória" Um evangélico, portanto, era centrado em Deus; alguém que estava convencido de que Deus havia feito tudo e que não restava nada que o homem considerasse seu a não ser seu próprio pecado. Isto não apenas transformou radicalmente a vida devocional dos crentes que o abraçaram, mas toda a estrutura social também.
Numa velha taverna do século XVII em Heidelberg, na Alemanha, lê-se no alto "Soli Deo Gloria!" Johann Sebastian Bach, o famoso compositor, assinou todas as suas composições com aquele slogan da Reforma.
Do mesmo modo, um outro compositor, Handel, declarou, "Que privilégio é ser membro da igreja evangélica, saber que meus pecados estão perdoados. Se nós fossemos deixados à mercê de nós mesmos, meu Deus, o que seria de nós?" Grandes e nobres vidas requerem grandes e nobres pensamentos, e a soberania e a graça de Deus são, para o crente, grandes e nobres pensamentos. Os reformadores disseram a Roma o que J.B.Philipps, o tradutor inglês da Bíblia, disse à igreja contemporânea: "O Deus de vocês é muito pequeno".
A Reforma, a qual produziu o termo "evangélico", também recuperou a doutrina bíblica do "sacerdócio universal de todos os santos" e a noção bíblica do chamado e vocação. A igreja tinha dividido os cristãos em primeira classe (aqueles que serviriam no "ministério cristão em tempo integral") e segunda classe (aqueles que estavam empregados em serviços "seculares"). Os reformadores concediam, por direito, que todos os cristãos são sacerdotes e são, por isso, ministros de Deus, independente de estarem varrendo uma sala para a glória de Deus, moldando uma peça de cerâmica, defendendo um cliente na corte, curando um paciente, ordenhando uma vaca, ou conduzindo uma congregação no louvor. Não há o "secular" e o "sagrado" - Deus criou o mundo inteiro e fez a vida neste mundo como algo inseparável de nossa própria humanidade.

Como nós ajustamos as coisas hoje? A questão, é claro, é se "evangélico" hoje significa o que significou há quinhentos anos. Em primeiro lugar, muitos dos evangélicos de hoje têm uma visão das Escrituras inferior à que a igreja de Roma tinha no século XVI. Instituições evangélicas de peso duvidam da confiabilidade da Bíblia e de sua infalibilidade - a menos, claro, que se trate daquilo que eles já decidiram que é verdade. Outros acreditam que a Bíblia é inerrante, porém acrescentam novas regras e revelações ao cânon. "A Bíblia é suficiente", nos aconselhariam os reformadores. Os sermões, com muita freqüência, são "pop-inspiracionalistas" discursos superficiais de "Como criar filhos positivos" ou "Como ter uma auto-estima" em detrimento de sérias exposições das Escrituras. De acordo com o Gallup, "Os EUA são um país de iletrados bíblicos", ainda que 60 milhões deles se consideram "evangélicos".
Em segundo lugar, muitos evangélicos modernos também não acreditam que Cristo é suficiente. Às vezes pessoas muito boas e nobres substituem Cristo como nosso único Mediador, assim como o Espírito Santo. Enquanto louvamos o Espírito juntamente com o Pai e o Filho, o Filho tem este papel único de nosso único advogado e Mediador. Não devemos olhar para a obra do Espírito nos nossos corações, mas para a obra de cristo na cruz. Às vezes, nós temos mediadores humanos que não são o Deus-Homem Jesus Cristo. Precisamos de outras coisas pelo meio, como a figura do pastor no "apelo" do altar ao qual me referi anteriormente. Não muito tempo atrás eu vi um tele-evangelista de sucesso tirando o fone do gancho e informando seus telespectadores que "esta é sua conexão com Deus". Uma banda secular, "Depeche Mode", canta sobre "Seu próprio Jesus Pessoal" que pode ser contactado ao se pegar no fone e fazendo sua confissão. Enquanto estivermos neste assunto, também deveríamos mencionar que foi a venda de indulgências de John Tetzel (redução do período no purgatório em troca de valores em dinheiro) que inspirou as "Noventa e Cinco Teses "de Lutero, desencadeando a Reforma. "Quando a moeda bate no cofre", o coro cantava, "uma alma do purgatório é vivificada". Será que isso realmente é diferente da venda da salvação que temos visto na televisão cristã, rádio, e mesmo em muitas igrejas? Dinheiro e salvação têm sido distorcidos para serem uma coisa só no meio de muitos de nós. "Eles vendem salvação a você", canta Ray Stevens, "enquanto eles cantam 'Amazing Grace' ('Graça Maravilhosa')".
Muitos evangélicos hoje crêem que "Somente a Graça" (sola gracia) é algo como livre-arbítrio, uma decisão, uma oração, uma ida até a frente, uma segunda bênção, algo que nós façamos por Deus que nos dará confiança de sermos alvo do Seu favor. Doutrinas como eleição, justificação e regeneração são discutidas quase que nunca, porque elas mostram o quadro de uma humanidade que é incapaz e nem ao menos pode cooperar com Deus em matéria de salvação. Se nós formos salvos é Deus e Deus somente que deverá faze-lo.
E sobre "Somente a Fé" (sola fide)? Muitos evangélicos acham que a fé não é suficiente. Se um indivíduo crê em Cristo e daí sai e o anuncia, será que a fé é suficiente? Alguns insistem que a fé mais a entrega, ou a fé mais a obediência, ou fé mais um sincero desejo de servir ao Senhor servirão como uma fórmula. 0 fato de que os evangélicos hoje lutam com estas questões indica que nós não ouvimos o "som seguro" de "Somente a Fé" em nossas igrejas. Fé é suficiente porque Cristo é suficiente.
Como se comparariam os evangélicos de hoje com os seus predecessores em matéria de "Somente a Deus seja a Glória"? Auto-estima, glória-própria, centralidade do "eu" parecem dominar a pregação, ensino e a literatura popular do mundo evangélico. Os evangélicos de hoje sabem muito pouco do grande Deus dos reformadores - um Deus que faz tudo conforme o Seu agrado, em relação aos céus e às pessoas sobre a terra e "que faz tudo conforme o conselho da Sua vontade" (Dn. 4; Ef. 1: 11). Os evangélicos hoje, refletindo sua cultura e sociedade mais ampla, estão intimidados por um Deus que é Deus. Porém que outro Deus é digno de confiança? Em poucas palavras, que outro Deus existe? Louvar ao Deus de uma experiência pessoal ou o Deus de preferência pessoal é louvar um ídolo. Os reformadores levaram isso a sério, e aqueles que quiserem ser evangélicos genuínos também devem faze-lo.